Criação de peixes: É sustentável comer peixe?

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Atualizado em: 10 Apr 2021

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Pressões nos estoques pesqueiros

Qual o problema da pesca?

Peixes e frutos do mar são as comidas mais comercializadas no mundo  e a fonte primária de proteínas para 20% da população mundial .

No entanto, mais de um terço das populações de peixes nativos são superexploradas . Isso significa que os peixes são removidos do mar mais rápido do que conseguem se reproduzir . O aumento da temperatura do mar e a acidificação dos oceanos, juntamente com a poluição de plásticos e de produtos químicos, torna ainda mais difícil para os peixes enfrentarem as pressões impostas pela pesca exagerada . Como resultado, há uma redução das populações de peixes.

Mesmo que regulamentações tenham sido criadas para conservar as populações de peixes , elas frequentemente são ignoradas por barcos de pesca ilegal .

Retirar peixes em excesso do mar debilita as teias alimentares, o que resulta no declínio de mais populações de outras espécies marinhas vulneráveis .

Quando há pesca exagerada de predadores, suas presas herbívoras saem do controle e destroem grandes porções de florestas subaquáticas, liberando o carbono contido nelas .

Alguns métodos de pesca também causam a liberação do carbono armazenado no fundo do oceano . O mais destrutivo é o arrasto de fundo .

O que é arrasto de fundo?

Arrasto de fundo é uma técnica de pesca usada para pegar peixes do fundo do mar, como camarão e bacalhau. A técnica consiste em arrastar uma grande rede no fundo do oceano, capturando tudo que ficar em seu caminho.

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Arrasto de fundo

Por que o arrasto de fundo é especialmente prejudicial?

  1. Espécies em perigo que não são um alvo, como tartarugas marinhas, costumam ser pegas pela rede.
  2. Redes de fundo agitam a superfície do fundo do mar. Isso libera o carbono que estava estocado nos sedimentos por milênios e reduz a capacidade desses habitats de absorver carbono futuramente .
  3. Ao aplainar o sedimento, o arrasto de fundo reduz a diversidade de habitats no fundo do mar, limitando o número de espécies que podem viver lá.

Está claro que a pesca de peixes nativos tem impactos devastadores nos ecossistemas marinhos. Mas de que outra maneira poderíamos obter peixes?

A aquicultura é melhor que a pesca de peixes nativos?

Aquicultura é a criação e cultivo de animais e plantas aquáticas . Atualmente, é o setor que mais cresce na indústria de alimentos de origem animal e fornece mais da metade dos peixes que consumimos .

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De onde vem o peixe que consumimos

A aquicultura é garantia fundamental da segurança alimentar global  e tem o potencial de reduzir a pressão sobre as populações de peixes nativos . No entanto, isso não é verdade para algumas práticas de aquicultura…

Qual é o problema com a aquicultura?

A destruição de habitats para abrir espaço para a aquicultura prejudica de forma direta os ecossistemas naturais. Há uma preocupação especial com a destruição dos manguezais (árvores que crescem na água salobra na costa do mar) para abrir espaço para criação de camarão . O manguezal traz proteção para a região de costa e serve de berçário para filhotes de peixes . Além disso, ele armazena uma grande quantidade de carbono . Portanto, a perda desses habitats implica na liberação de carbono na atmosfera .

Ademais, peixes nativos costumam ser empregados como ração em fazendas de peixe. Cerca de 20% dos peixes coletados no oceano servem para produzir ração para peixe . De fato, peixes carnívoros, como o salmão, consomem até 5 vezes mais proteínas do que são capazes de fornecer posteriormente .

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Demanda de peixes vs. oferta real 

Peixes que se alimentam de plantas não requerem ração à base de peixe e, por isso, não colocam tanta pressão nos estoques de peixes nativos . No entanto, a ração deles comumente contém plantas que demandam terra, água e energia para serem produzidas .

Comida de peixe não consumida, juntamente a fezes e outros tipos de lixo orgânico, podem se dispersar para habitats próximos, criando zonas mortas aquáticas, onde os peixes nativos não conseguem sobreviver . Produtos químicos usados na aquicultura, como esteróides, pesticidas e antibióticos também podem vazar para ambientes aquáticos, interferindo nos ecossistemas locais .

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Impactos da aquicultura em habitats vizinhos

Apesar desses problemas, a carne de peixe é uma fonte saudável de proteínas, gorduras e nutrientes essenciais, com menor taxa de emissão de carbono e maior eficiência do que outras carnes, como a bovina ou a ovina. Então, o que podemos fazer para tornar a aquicultura mais sustentável?

Melhoria na ração dos peixes

A taxa de crescimento dos peixes pode ser otimizada sem aumentar a quantidade de alimentos disponibilizada. Como peixes necessitam de oxigênio para digerir a comida, maiores níveis de oxigênio na água podem acelerar seu crescimento . Esse mesmo resultado pode ser obtido através de rações que sejam mais fáceis de digerir .

Outra alternativa é usar a reprodução seletiva ou engenharia genética nos animais para que a ração seja usada de forma mais eficiente .

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Perda de energia ao longo da cadeia alimentar

No entanto, espécies que se alimentam de outros peixes podem ser alimentadas com resíduos provenientes do processamento de peixes ou de sobras do consumo humano. Isso reduz tanto a pressão nos estoques de peixes silvestres quanto o desperdício de comida . Microalgas podem ser usadas no lugar de rações à base de peixe, já que elas contêm altos níveis de proteínas e as gorduras saudáveis encontradas na carne de peixes .

Algumas espécies de peixe não precisam nem mesmo de ração ! \definition{Animais filtradores}{filterfeeders}, como ostras e mexilhões, conseguem comida extraindo os nutrientes da água, incluindo aqueles provenientes dos restos deixados por outros peixes !

Podemos melhorar a saúde dos peixes?

Uma melhor qualidade da água e rações mais nutritivas melhoram a saúde dos peixes. Isso é um fato importante, pois doenças são a maior causa de perdas de produção na aquicultura. Melhorar a saúde dos peixes aumenta a sua sobrevivência e a quantidade de peixes produzidos a partir de uma mesma quantia de recursos .

O desenvolvimento de vacinas contras as doenças mais comuns em peixes permitiu que os produtores reduzissem sua dependência de antibióticos . No entanto, as vacinas só são efetivas contra algumas doenças .

Reduzindo a poluição

O local onde a fazenda de peixes é construída determina o impacto sofrido pelos ecossistemas próximos . Se muitas fazendas são construídas no mesmo lugar, poluentes, como resíduos de peixes e substâncias para tratamento de doenças irão se acumular a níveis perigosos.

Uma outra solução é trazer as fazendas para terra firme , ajudando a conter a disseminação de resíduos e prevenindo que os peixes escapem para a natureza .

Conclusão

Com os cuidados necessários, a aquicultura pode servir como uma fonte sustentável e saudável de proteína animal, produzindo menos emissões do que outros produtos animais. No entanto, proteínas provenientes de plantas quase sempre possuem uma pegada de carbono menor do que as de carne . Mas e se pudéssemos produzir carne sem todas as emissões associadas aos métodos tradicionais de criação?

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